quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Entrevista a Lurdes Batista


Maria de Lurdes Batista nasceu em Angra do Heroísmo. Aos 4 anos de idade veio para S.Miguel com os seus pais e desde então vive na freguesia de Água de Pau.
Ao contrário de outras mulheres da pesca, entrevistadas anteriormente, Lurdes Batista nem sempre se dedicou à vida da pesca, a sua família vivia do campo e ela ajudava os seus pais em todos os trabalhos inerentes à agricultura.
Aos 16 anos, casou-se com António Sousa e foi a partir daí que se iniciou a sua vida na pesca. Lurdes Batista é uma grande mulher da pesca, trata de toda a administração do barco, da preparação do engodo (isca), dos aparelhos de pesca, etc, além de ir para o mar!
Inicialmente Lurdes Batista era muito discriminada por ir para o mar com o seu marido, mas não se importava, a sua família apoiava-a e ela tinha orgulho em ser pescadora.
Uma grande prova de respeito, por parte de pescadores e armadores, surgiu no ano de 2010, quando Lurdes Batista foi eleita secretária da Mesa da Assembleia Geral da Porto de Abrigo, nomeadamente, a primeira mulher a fazer parte dos órgãos sociais da Cooperativa.
Em 2008 integrou-se na “Ilhas em Rede Associação de Mulheres na Pesca nos Açores”, e é com um grande agrado que tem seguido o desenvolvimento crescente desta associação.
Lurdes Batista Lopes tem participado em actividades e encontros da Associação Ilhas em Rede, que segundo ela são extremamente importantes para a valorização da mulher no sector piscatório.
Relativamente à crise que tem afectado o sector das pescas, Lurdes Batista refere que as coisas têm vindo a piorar, o pescador muitas vezes nem ganham para as despesas.
É por esta razão que Lurdes Batista hoje em dia não recomenda a vida da pesca, apesar de nunca ter pensando ter outra profissão.

Texto e foto: Joana Medeiros

Rabo de Peixe acolheu histórias e vivências de mulheres da pesca


Mulheres da pesca dinamizaram e protagonizaram fim de semana diferente na freguesia de Rabo de Peixe.

Verdadeiras protagonistas num sector que enfrenta graves dificuldades, as mulheres da pesca nos Açores tem vindo a conquistar o seu espaço, ganhando visibilidade, auto-confiança e determinação para a mudança.

O fim de semana de 22 e 23 de Janeiro, em Rabo de Peixe ,demonstrou isso mesmo através da iniciativa promovida pela UMAR-Açores em parceria com a Ilhas em Rede – Associação de Mulheres na Pesca dos Açores e Descalças, Cooperativa Cultural.

A peça de Teatro Fórum, reposta em cena por algumas mulheres e resultado de uma Oficina de Teatro d@ Oprimid@ (TO) realizada anteriormente na Ribeira Quente, fez eco não só das suas preocupações mas também da necessidade que sentem em encontrar soluções para as mesmas. No caso em concreto a peça apresentada em público (e as peças em TO partem sempre de histórias reais) tinha como temática a de alguém que tinha efectuado uma candidatura para modernização / aquisição de novo barco sendo que o apoio conseguido para tal ficou muito abaixo das suas esperanças e do que achava justo.

Nesta forma de Teatro, o público, que além de espectador se transforma em actor, interage com os actores e as actrizes em cena e juntos debatem o problema e tentam apontar soluções. No fundo é essa a filosofia do Teatro Fórum, ou seja uma estratégia de partilha e discussão grupal e/ou pública de problemas e opressões que muitas vezes nos são invisíveis ou foram tornadas “naturais”.

Esta iniciativa teve lugar na tarde de sábado, dia 22 de Janeiro, na sede do Sindicato de Pescadores de Rabo de Peixe, e , para além do Teatro, abrangeu ainda a exibição do documentário “Ciclo das Horas” de Sheila Calgaro, sobre a pesca industrial no Brasil, bem como a apresentação do videoclip “Viagem” de Maria Simões, sobre o TO na Ribeira Quente.

No público, em número bastante considerável, e para além de elementos da comunidade de Rabo do Peixe, estiveram presentes mulheres da pesca de outras ilhas, sócias da Ilhas em Rede, que no domingo realizou a sua 3ª Assembleia Geral.


Texto e foto: Laurinda Sousa

Ver mais fotos no blogue da Ilhas em Rede: http://ilhasemrede.wordpress.com/

Entrevista a Mª do Espírito Santo Cabral


Maria do Espírito Santo Cabral é uma mulher da pesca residente na bonita Vila de Rabo de Peixe. É casada com João Manuel Machado, tem 9 filhos, dos quais 6 são raparigas e 3 são rapazes.
Desde jovem que está ligada à pesca, uma vez que sempre ajudou o seu pai, “um grande pescador” segundo ela. Depois de casar comprou um barco, que até hoje é o sustento da sua casa.
Maria do Espirito Santo menciona que, apesar de algumas vezes se ter sentido discriminada, nunca se importou e nunca deixou de fazer o que quer que fosse porque tem muito gosto em viver da pesca.
Os seus três filhos e um genro vão para o mar com o senhor Manuel, e Mª do Espírito Santo fica em casa a cuidar de uma grande família, da administração do barco, da preparação do engodo, entre muitas outras coisas inerentes à pesca. Porém tem pena de nunca ter ido para o mar com o seu marido, “era uma experiência que gostava muito de ter”, refere.
Mª do Espirito Santo recorda, com alguma nostalgia, a luta e as manifestações preconizadas pelos pescadores, e até por ela própria, com o apoio de Liberato Fernandes, sobretudo, há 15 anos atrás quando pela primeira vez os pescadores de São Miguel receberam o subsídio de mau tempo (Fundo de Pesca), que este ano teima em ser negado. Foi uma altura em que os pescadores se juntaram para lutar pelos seus direitos e conseguiram.
Maria do Epirito Santo refere, emocionada, que hoje em dia e infelizmente os pescadores já não estão tão unidos, estão desmotivados e a crise tem sido uma das grandes razões desta desmotivação. O pouco dinheiro que levam para casa não dá para as despesas básicas, muitas vezes ela questiona-se: “como vamos sobreviver com tão pouco?”
Para Maria do Espírito Santo, as medidas que o governo tem tomado para o sector das pescas não têm sido eficazes prejudicando os pescadores e as suas familias.

Foto e texto: Joana Medeiros

Entrevista a Maria Jorgina Raposo


Jorgina Raposo é uma mulher da pesca natural da Vila de Nordeste, tem dois filhos, uma rapariga e um rapaz, fruto do seu casamento com Ernesto Raposo.

A sua vida na pesca teve sempre muitos altos e baixos, algum tempo depois de casar comprou um barco com o seu marido onde trabalhavam com artes de cerco. Infelizmente com as cheias o mar levou-lhes tudo o que tinham construído, depois compraram um novo barco e devido a algumas alterações na lei passaram a trabalhar com artes de rede de emalhar.

Para que nada faltasse aos seus filhos e para que pudessem ter uma vida adequada, sempre com muito trabalho e sacrifício, quando a vida permitiu compraram uma carrinha e foi a partir daí que as coisas se complicaram um pouco mais. Jorgina referiu que quando saia para vender peixe era muito discriminada, não tanto pelos homens, pois estes limitavam-se a olhar-lhe de lado, mas pelas mulheres que eram muito severas, chamando-lhe nomes e criticando-a pelo trabalho que desempenhava. Para além da venda do peixe Jorgina também trabalhava na administração do barco, consequentemente nas compras e pagamentos dos pescadores.

Devido a todas as dificuldades e adversidades inerentes à vida na pesca Jorgina, hoje em dia, não recomenda esta profissão. Contudo refere que não mudaria de profissão, até porque, enquanto trabalhou 18 anos nos correios sempre trabalhou com o seu marido na pesca.

Jorgina refere que existem algumas políticas que deviam ser alteradas, nomeadamente as que não são vantajosas e úteis para o sector piscatório, como a construção de novos barcos sem se abaterem os antigos, questão que faz com que deixe de haver mais peixe e até mesmo pescadores para irem para o mar.

Jorgina mencionou que para se ultrapassar estes problemas devia-se, por exemplo, compensar os armadores e pescadores mais antigos com melhores reformas de modo a que estes pudessem dar lugar a armadores e pescadores mais novos.

Texto e foto: Joana Medeiros