quinta-feira, 1 de julho de 2010

“As Mulheres na Pesca nos Açores”

A "Voz dos Marítimos" no Açoriano Oriental passou a integrar, a partir de Maio, uma secção intitulada “As Mulheres na Pesca nos Açores” que conta com notícias, testemunhos e entrevistas a profissionais da pesca, nomeadamente mulheres, tendo como lema: Valorizar as Mulheres na Pesca é também valorizar o sector Piscatório.



A primeira entrevista realizada foi a Maria dos Anjos Medeiros, natural de Água de Pau, casada com Manuel Carlos Pacheco, armador, mãe de uma rapariga e dois rapazes.
Foram-lhe colocadas algumas questões, quanto à sua ligação com a pesca. Maria dos Anjos referiu que o seu avô e o seu pai já eram pescadores, logo este trabalho vinha sendo transmitido ao longo de gerações. Deste modo, sempre ajudou o seu pai e a sua mãe em tarefas relacionadas com a pesca, como por exemplo na cozedura da batata para o engodo. Isto porque a pesca a que a sua família estava ligada era, sobretudo, a da captura do chicharro durante a noite, e por ser mulher esta tarefa não era considerada como apropriada.

Aos 20 anos, pela altura em que casou, esta actividade tornou-se mais frequente. Ela e o seu marido sempre tiveram um barco, o filho mais velho trabalha com o pai no mar, e a filha mais nova, também já tem licença. Todas as tarefas relacionadas com a administração do barco são desempenhadas por Maria dos Anjos, nomeadamente, as compras que são feitas para o barco, a gestão dos documentos legais e o pagamento dos próprios homens da companha. Não esquecer que, para além disso, também é mãe e esposa e como tal são muitas mais, as tarefas que desempenha diariamente.
Contudo é importante salientar, que para muitos homens e até para algumas mulheres, todo este trabalho desempenhado pela mulher na pesca, é considerado como uma “ajuda”….

Na sequência destas declarações debateu-se a questão da invisibilidade e da discriminação que existe em relação às mulheres na pesca. Maria dos Anjos mencionou que há alguns anos atrás a sua presença não era muito bem aceite, especialmente, quando ia à lota, fazendo com que não se sentisse bem neste meio. Todavia, ela indica que hoje em dia “é como ir ao supermercado”, o que significa que aos poucos as mulheres estão a ser reconhecidas e valorizadas, visto que também têm um papel predominante neste sector.

Assim, quando lhe foi questionado se desejava ter tido outra profissão, a entrevistada referiu que muitas vezes preferia trabalhar fora, assim seria considerada como trabalhadora e obteria o seu próprio rendimento, embora recomende vivamente esta profissão.

Quanto à gestão do sector piscatório, algumas medidas que a Maria dos Anjos considera que deviam ser alteradas, estão relacionadas com a falta de valorização deste sector e com o aumento da frota. Segundo ela, por cada barco novo que se constrói devia-se abater um velho, ou seja, devia haver um maior compromisso por parte de todos os que trabalham no sector piscatório.

Contudo, apesar das adversidades que a vida de um pescador acarreta, por exemplo, relativamente ao estado do tempo, do mar, do preço do pescado, entre outros, Maria dos Anjos realça que o trabalho na pesca é deveras importante para todos/as e dele dependem muitas famílias.

Joana Medeiros - Socióloga

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