quinta-feira, 1 de julho de 2010

“As Mulheres na Pesca nos Açores”


Entrevista a Maria do Espírito Santo Ferreira

Maria do Espírito Santo é uma mulher da pesca e desenvolve actividade em Rabo de Peixe. É casada com Eduardo Cabral, tem 6 filhos e 3 filhas, uma grande família onde não falta amor e carinho. Sempre esteve ligada à pesca, o seu pai era pescador e o seu sogro tinha um barco, colaborava na realização de algumas tarefas, nomeadamente na construção das redes.

Cinco dos seus filhos trabalham com o pai no mar e o seu neto de 10 anos, também diz que quer ser pescador, um aspecto interessante que demonstra que esta actividade, apesar dos tempos difíceis por que está a passar, é geracional, ou seja, em alguns casos é transmitida ao longo de gerações.

Mª do Espírito Santo e o seu marido têm um barco de boca aberta e tal como outras mulheres ligadas à pesca, trabalha na administração do barco. Apesar de recomendar o trabalho na pesca, considera que o sector piscatório necessita de algumas transformações. Devia haver mais apoios para poderem (re)construir as suas embarcações, refere também que hoje em dia é tão difícil trabalhar na pesca, e são muitas as razões associadas a esta dificuldade. Neste sentido, mostrou-se bastante indignada com algumas medidas que não são implementadas da melhor forma, uma que leva a que muitos pescadores deixem de ir para o mar, e outra que é a questão do IRS, no sentido em que, todos os anos pagam valores excessivamente elevados.

Contudo, quando lhe foi interrogado se gostaria de ter tido outra profissão, Mª do Espírito Santo disse que sim, pelo facto de poder ter o seu próprio rendimento, porque apesar de trabalhar na pesca, esse trabalho não é remunerado.

Foi interessante verificar que os seus filhos e o marido reconhecem o seu trabalho na pesca e admiram-na por isso, considerando que tudo o que ela faz não se trata apenas de uma ajuda.

Por tudo isto, Mª do Espírito Santo refere que já há mais respeito pelas Mulheres na Pesca, o que significa que todo o trabalho que tem sido desenvolvido nesta área está a produzir bons resultados.

Joana Medeiros - Sociólogo

“As Mulheres na Pesca nos Açores”

A "Voz dos Marítimos" no Açoriano Oriental passou a integrar, a partir de Maio, uma secção intitulada “As Mulheres na Pesca nos Açores” que conta com notícias, testemunhos e entrevistas a profissionais da pesca, nomeadamente mulheres, tendo como lema: Valorizar as Mulheres na Pesca é também valorizar o sector Piscatório.



A primeira entrevista realizada foi a Maria dos Anjos Medeiros, natural de Água de Pau, casada com Manuel Carlos Pacheco, armador, mãe de uma rapariga e dois rapazes.
Foram-lhe colocadas algumas questões, quanto à sua ligação com a pesca. Maria dos Anjos referiu que o seu avô e o seu pai já eram pescadores, logo este trabalho vinha sendo transmitido ao longo de gerações. Deste modo, sempre ajudou o seu pai e a sua mãe em tarefas relacionadas com a pesca, como por exemplo na cozedura da batata para o engodo. Isto porque a pesca a que a sua família estava ligada era, sobretudo, a da captura do chicharro durante a noite, e por ser mulher esta tarefa não era considerada como apropriada.

Aos 20 anos, pela altura em que casou, esta actividade tornou-se mais frequente. Ela e o seu marido sempre tiveram um barco, o filho mais velho trabalha com o pai no mar, e a filha mais nova, também já tem licença. Todas as tarefas relacionadas com a administração do barco são desempenhadas por Maria dos Anjos, nomeadamente, as compras que são feitas para o barco, a gestão dos documentos legais e o pagamento dos próprios homens da companha. Não esquecer que, para além disso, também é mãe e esposa e como tal são muitas mais, as tarefas que desempenha diariamente.
Contudo é importante salientar, que para muitos homens e até para algumas mulheres, todo este trabalho desempenhado pela mulher na pesca, é considerado como uma “ajuda”….

Na sequência destas declarações debateu-se a questão da invisibilidade e da discriminação que existe em relação às mulheres na pesca. Maria dos Anjos mencionou que há alguns anos atrás a sua presença não era muito bem aceite, especialmente, quando ia à lota, fazendo com que não se sentisse bem neste meio. Todavia, ela indica que hoje em dia “é como ir ao supermercado”, o que significa que aos poucos as mulheres estão a ser reconhecidas e valorizadas, visto que também têm um papel predominante neste sector.

Assim, quando lhe foi questionado se desejava ter tido outra profissão, a entrevistada referiu que muitas vezes preferia trabalhar fora, assim seria considerada como trabalhadora e obteria o seu próprio rendimento, embora recomende vivamente esta profissão.

Quanto à gestão do sector piscatório, algumas medidas que a Maria dos Anjos considera que deviam ser alteradas, estão relacionadas com a falta de valorização deste sector e com o aumento da frota. Segundo ela, por cada barco novo que se constrói devia-se abater um velho, ou seja, devia haver um maior compromisso por parte de todos os que trabalham no sector piscatório.

Contudo, apesar das adversidades que a vida de um pescador acarreta, por exemplo, relativamente ao estado do tempo, do mar, do preço do pescado, entre outros, Maria dos Anjos realça que o trabalho na pesca é deveras importante para todos/as e dele dependem muitas famílias.

Joana Medeiros - Socióloga